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A piada envenenada de Tarcísio e a covardia que mata devagar

Enquanto paulistas morrem por intoxicação de metanol, o governador faz graça. A irresponsabilidade política virou humor, e a tragédia, estatística.
8 de outubro de 2025
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Pablo Jacob/Governo do Estado de SP/.)

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, decidiu brincar com o envenenamento de gente. Disse que só vai se preocupar com o metanol quando começarem a falsificar Coca-Cola — porque, afinal, ele não bebe álcool. Engraçadíssimo. Três mortos confirmados, mais de 160 casos sob investigação (dados do momento em que esse texto foi escrito), e o governador de São Paulo achou que era hora de fazer stand-up.

Há um tipo de humor que nasce da arrogância: o humor de quem nunca precisou pagar o preço das próprias decisões. E foi exatamente esse o tom do governador — o mesmo tom do “não sou coveiro”, versão paulista, engarrafada e com gás.

A piada é ruim, mas o contexto é pior. São Paulo vive um surto de bebidas adulteradas com metanol, um problema que envolve fiscalização, polícia e saúde pública — três áreas sob responsabilidade direta do governo estadual. E o governador, em vez de agir, faz trocadilho com refrigerante.

Sim, é verdade: bebidas falsificadas existem há anos. Mas o surto atual, com mortes confirmadas e risco de expansão para outros estados, acontece agora, sob a gestão dele. E é exatamente nesses momentos — quando a tragédia exige ação e empatia — que se mede o caráter de um governante.

A função de um líder não é fazer piada sobre o que não entende, mas entender o que não é piada. E neste caso, a única coisa adulterada não é a bebida — é a noção de responsabilidade.

Governar é ter a coragem de levar a sério o que é sério. Quando a morte vira motivo de piada, é sinal de que já não há diferença entre descuido e desprezo. E o governador de São Paulo, ao rir da própria omissão, mostrou que entende de ambos.


PS: Na noite desta terça (7), Tarcísio usou as redes sociais para se desculpar. É o mínimo que deveria fazer mesmo.