
Olá, querido leitor do Diário de Ribeirão Branco. Hoje o assunto é daqueles que pesam no peito. Mas, mesmo assim, a gente precisa falar. Porque, quando a gente cala, a dor cresce. E dor nenhuma merece virar rotina.
Você já se sentiu ignorado dentro de um órgão público? Já teve a sensação de que sua voz não vale nada quando entra em uma repartição? Já sentiu que o seu pedido era menos importante só porque você não usava terno, ou porque mora longe do centro, ou porque sua pele não é clara? Pois é. Isso tem nome: discriminação estrutural. E ela é uma das formas mais cruéis de exclusão.
Ela não grita, mas te silencia. Não bate, mas te empurra pra fora. Ela se esconde em normas que ninguém explica, em atendimentos frios, em exigências absurdas que só valem pra quem já vem de baixo. Ela está nas entrelinhas. Está no “volte outro dia”, no “faltou um documento”, no “o sistema caiu”, quando, na verdade, o que caiu foi o respeito.
Essa estrutura, meu irmão, minha irmã, foi feita pra dificultar o acesso de quem mais precisa. E quem mais precisa, a gente já sabe quem é:
É o preto e o pardo,
é o pobre que só quer um remédio,
é a mãe solo,
é o idoso sem aposentadoria,
é o jovem periférico,
é a pessoa com deficiência,
é o indígena,
é o quilombola,
é quem vive com doença mental ou invisível,
é o LGBTQIA+,
é o trabalhador rural,
é o morador da zona de fronteira,
é quem não tem sobrenome famoso, nem conhece ninguém “lá dentro”.
O preconceito é disfarçado de norma, mas o efeito é o mesmo: te afastam do que é seu por direito.
Como se proteger?
Não peça o que é seu. Exija. Direito não é favor.
Não se cale. Quando a gente grita junto, ecoa mais longe.
Guarde nomes, datas, atitudes. Nenhuma violência administrativa deve ficar sem resposta.
Denuncie. À ouvidoria, ao Ministério Público, à Defensoria, à imprensa, às redes sociais. O mundo precisa saber.
Não aceite ser tratado com desprezo. Respeito é o mínimo. Dignidade é o básico.
Fortaleça os seus. Quando você aprende, ensine. Quando conquista, puxe outro com você.
E, se por acaso, no meio do caminho, alguém te olhar com desdém, levante a cabeça. Olhe firme. Você não deve nada a ninguém. Você é filho de um povo que resistiu a tudo. E ainda está de pé.
Lembre-se disso:
Quem nasce na margem aprende a nadar contra a corrente.
Quem vive negado aprende a ser voz onde só havia silêncio.
Quem foi desacreditado volta mais forte.
E se hoje você sente que está apanhando do sistema, eu te digo com o coração aberto: não é fraqueza se sentir cansado. Fraqueza é achar que merece isso. E você não merece.
Eu senti e ainda sinto. E é por isso que escrevo. Porque minha dor também já foi calada, distorcida, ignorada. E transformar dor em palavra é meu jeito de não morrer por dentro.
Você não é invisível. E não está sozinho. Levante-se e lute até que não consigam mais te bater.
Nos encontramos na próxima edição.
Até lá, cuide-se. E, por favor, não desista. Porque a sua existência já é resistência.
Como sempre, receba meu abraço fraternal, na medida de sua necessidade.
Até breve!
Donizete