
Caro leitor, permita-se um instante de pausa. Respire fundo e pense em alguém que você conhece que está sempre disponível. Que ouve, que ajuda, que segura as pontas quando tudo parece desabar. Agora responda, com sinceridade: quem cuida dessa pessoa?
Em Ribeirão Branco e no restante do Brasil, a gente cresce ouvindo que mãe é guerreira, que mulher forte aguenta tudo, que servidor público “tem estabilidade e não pode reclamar”. E, com isso, vamos normalizando o sofrimento de quem carrega o mundo nas costas.
São mães solo, avós cuidadoras, agentes comunitárias de saúde, professoras do ensino fundamental, servidoras da assistência social, profissionais da saúde — homens e mulheres que, mesmo adoecidos, seguem cuidando dos outros. E quando o cansaço bate? Quando a alma chora? Quando o corpo desiste?
A verdade é que o cuidado virou invisível. E quem cuida demais, muitas vezes, é esquecido. Porque a nossa sociedade cobra força de quem já está fraturado, exige presença de quem nunca teve tempo para si e julga o choro de quem deveria ser “exemplo de resiliência”.
Mas não há resiliência sem rede. Não há cuidado sem reciprocidade. O Estado brasileiro, inclusive, tem o dever de proteger quem exerce esse papel. Está na Constituição: a dignidade da pessoa humana é fundamento da República. E a dignidade começa com ser visto, ser amparado e ser respeitado.
A psicóloga que te ouve também tem seus silêncios. O agente de saúde que te visita também tem filhos com febre. A professora da escola rural também está lutando para pagar a conta de luz.
Não se trata de romantizar o sofrimento. Trata-se de denunciar o abandono de quem sempre esteve na linha de frente. A pandemia escancarou essa ferida, mas o Brasil parece ter fechado os olhos novamente. E quem cuida… segue cansando.
Portanto, leitor, da próxima vez que encontrar alguém que cuida, pergunte sinceramente: “E você, como está?” Essa pergunta pode parecer simples, mas pode salvar uma vida.
E se você é essa pessoa que cuida de todo mundo, aceite esta mensagem como um abraço: você também merece colo, cuidado, descanso e reconhecimento.
Nos vemos na próxima edição.
Receba meu abraço fraterno, na medida da sua necessidade,
de um humanista,
Donizete