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Compreenda a força do pertencimento

Pertencer é resistir com amor e raízes.

Olá, queridos leitores. Que bom estar de volta e reencontrá-los por aqui. Cá estamos, mais uma vez, para refletir sobre uma lição que aprendi só depois de muito “bater em ponta de faca”. Falo do pertencer, do estar, do encher a boca com orgulho para dizer que sou deficiente e quero respeito. Que sou preto ou pardo e quero respeito. Que sou indígena e quero respeito. Que sou mulher e quero respeito. Que sou homo, trans ou cis e quero respeito… Que sou gente. Me trate como sou, como mereço.

Pertencimento é o sentimento de estar incluído, de ser parte viva de um lugar, de uma história, de uma gente. É quando o coração encontra repouso no que é familiar e a alma se reconhece no chão que pisa. Sentir-se pertencente é mais do que estar em um espaço físico: é reconhecer-se na linguagem, nos gestos, nas tradições, nos cheiros, nos sons e nos silêncios de um povo. É o que nos faz sentir que temos raízes — e que essas raízes nos sustentam.

Em Ribeirão Branco, onde as manhãs ainda têm cheiro de café coado e as tardes são preenchidas por conversas na calçada, o pertencimento é força que não se vê, mas se sente. É o que faz com que, mesmo quem foi embora, carregue no peito um tipo de saudade que não passa. É ali, na simplicidade do interior, que a gente entende que não precisa vestir fantasias para ser grande. Basta ser quem se é.

O sentimento de pertencimento fortalece as raízes porque nos conecta com o que temos de mais valioso: a nossa história, a nossa cultura e o nosso jeito único de viver. Quando alguém se reconhece em seu povo e em sua terra, há mais chances de florescer, de ter orgulho de si, de sonhar com coragem e de lutar com dignidade.

Ser interiorano não é sinônimo de atraso, mas de potência. A força que vem do interior é aquela que nasce da escassez, mas frutifica em solidariedade. É aquela que transforma a dificuldade em sabedoria e o tempo lento em atenção ao que realmente importa. Quando a gente se mostra com verdade, com os pés firmes nas origens, é aí que a gente cresce de verdade.

Mostrar-se enquanto interiorano é, portanto, um ato de resistência e de valorização. É dizer ao mundo que não somos menos, somos diferentes — e é nessa diferença que mora a beleza da nossa contribuição social. O trabalho, a educação, o saber popular… tudo isso ganha novo sentido quando parte de um lugar que respeita e valoriza suas raízes.

Enquanto escrevia estas linhas, veio-me à memória uma cena simples, mas poderosa: minha saudosa mãe fazendo pão na frigideira para mim, meu irmão e minhas irmãs. Era o cheiro que acordava a casa, o gesto de amor que aquecia a alma. De forma nostálgica, me vi por um tempinho ali com ela — e, por isso, este texto já valeu a pena. Obrigado, leitor, por me proporcionar esse reencontro.

Que este texto seja um convite: para que você, leitor ou leitora, olhe para dentro, reconheça sua origem, fortaleça sua identidade e se desafie enquanto pessoa, enquanto humano, enquanto alguém que, por meio do trabalho, também cumpre uma função social. Porque ninguém cresce sozinho. Cresce quem se sente parte.

Então se liga, se levanta e mostre, por todos os lugares, quem é você, o que você representa — e divida com o mundo toda essa pluralidade humana que possuímos.

Nossa força está nas raízes. E é delas que virão as próximas reflexões. Até lá.
E lembre-se: ninguém chega à casa alheia com o pé na porta. Respeito sempre — e para todos.

Sobre a Coluna

A coluna de Donizete Furlan será publicada semanalmente no Diário de Ribeirão Branco, sempre com textos que entrelaçam Direito, memória e cotidiano. Um convite ao pensamento crítico com raízes no interior.

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