
Quando falamos em alteridade social, estamos falando de aprender a olhar para o outro com honestidade e respeito, entendendo que a vida não se apresenta da mesma forma para todos. Não se trata de teoria difícil nem de palavra bonita, mas de algo que está presente todos os dias: nas ruas, no trabalho, na escola, no jeito como a cidade funciona e no modo como as pessoas são tratadas. Alteridade social é reconhecer que há quem caminhe mais leve porque o caminho foi pavimentado antes, enquanto outros seguem tropeçando porque nunca tiveram escolha.
Em Ribeirão Branco — e na maioria das cidades do Brasil e do mundo — isso aparece com nitidez. Basta observar quem carrega o peso maior da rotina.
O trabalhador preto que precisa provar o tempo todo que é honesto, capaz e digno de confiança.
A pessoa pobre que aprende cedo que o “direito” muitas vezes chega atrasado, quando chega.
O jovem homossexual que cresce entendendo que existir do jeito que é pode gerar olhares atravessados, piadas, medo e, às vezes, violência. As pessoas com deficiência, que enfrentam barreiras físicas e de atitude todos os dias.
Essas pessoas não vivem menos. Vivem mais expostas. E isso não é vitimismo — é realidade.
Alteridade social começa quando a gente entende que não dá para medir a dor do outro com a nossa régua. Quem nunca foi seguido em loja não sabe o que é esse constrangimento. Quem nunca teve a casa marcada pela falta não entende o desespero de escolher o que cortar. Quem nunca precisou esconder quem ama para se proteger não conhece o silêncio forçado que machuca. Reconhecer isso não diminui ninguém. Pelo contrário: amplia o nosso olhar e nos torna mais humanos.
Ter alteridade social é sair do conforto do “eu nunca passei por isso” e assumir a responsabilidade do “isso também me diz respeito”. É entender que uma cidade só é justa quando cuida de quem sempre ficou à margem. É aceitar que igualdade não é tratar todo mundo do mesmo jeito, mas garantir condições reais para que todos possam viver com dignidade.
Quando a gente fecha os olhos para essas diferenças, reforça injustiças. Quando a gente escuta, reconhece e age, constrói pertencimento.
Alteridade social é perceber que o outro não é ameaça — é espelho. Espelho de um país desigual, de uma cidade marcada por contrastes, mas também de uma possibilidade concreta de mudança. Porque quando o direito alcança o preto, o pobre, o diferente, ele se fortalece para todos.
E quando a gente entende isso, Ribeirão Branco deixa de ser apenas um lugar no mapa e passa a ser uma comunidade que reconhece, acolhe e caminha junto, sem deixar ninguém para trás.
E, como sempre, fica aqui o meu convite: que a gente não leia este texto apenas com os olhos, mas com o coração aberto.
Se ele incomodou, é porque tocou em algo que precisa ser revisto. Se acolheu, é porque você também sabe o que é sentir-se invisível.
Seguimos juntos, palavra por palavra, construindo um pouco mais de humanidade onde ela faz falta.
Como sempre, receba um abraço na medida de sua necessidade.
Até a próxima!





