
Saudações, leitores. Obrigado por estarem aqui, por nos acompanharem com carinho nesta travessia — pequena no calendário, mas imensa no coração — que é o 50 Avos. Por sinal, já estamos próximos dos 30 textos dos 50 propostos pelo projeto.
Hoje quero falar sobre algo que, na correria dos dias, costuma passar despercebido: o preço humano de um direito. Não o custo em moeda, mas em vidas, em coragem, em perdas, em enfrentamentos e em esperanças que, geração após geração, empurraram o mundo para um lugar um pouco mais justo.
Porque nenhum direito nasce por acaso.
Nenhum direito aparece como concessão.
Direito nasce de luta.
Nasce do corpo que segura a faixa no asfalto quente. Da mulher que rompeu o silêncio quando o silêncio era lei. Do trabalhador que disse “não sou máquina” e parou a linha de produção. Do povo preto que, carregando nas costas o peso da escravidão e do pós-abolição, insistiu em existir com dignidade num país que lhe negava até a humanidade.
É difícil encarar, mas necessário: se você hoje descansa no domingo, se tem seguro-desemprego, se pode votar, se acessa saúde, escola e aposentadoria, é porque alguém, antes de você, suou, sangrou e resistiu para que isso existisse.
E não foram poucos.
Seu avô, sua bisavó talvez tenham vivido sob um Estado que os tratava como “gente incompleta”. Talvez sua avó tenha crescido ouvindo que não podia ter conta no banco, nem escolher o rumo da própria vida — porque a lei a tornava eterna menor, submissa ao marido, sem voz, sem mundo próprio.
Essas histórias não estão num passado distante: estão na nossa pele, na memória afetiva, naquela fotografia em preto e branco em que os olhos ainda falam de resistência.
E, ainda assim, há quem queira nos fazer crer que direitos “caem do céu”. Não caem. São conquistados. São arrancados com unhas, voz, dor e história.
Por isso, meu amigo, minha amiga, quando você afirma: — eu tenho direito — saiba que você não está apenas citando um artigo. Está honrando uma linha inteira de gente que veio antes de você. Está dizendo ao mundo: “A luta que começou muito antes de mim segue viva aqui, agora, em mim.”
É aqui que a emancipação ganha carne.
Aqui, a decolonização deixa os livros e entra na vida prática. Aqui, o empoderamento das massas ganha CPF, rosto e endereço — o seu, o meu, o nosso.
Porque direitos não são favores. Direitos são heranças conquistadas. São sementes plantadas por mãos calejadas — muitas vezes anônimas — que acreditaram num país possível, mesmo quando o país lhes respondeu “não”.
Hoje, quando lutamos para incluir minorias, proteger quem está à margem, reconhecer dignidade onde o sistema só vê números, estamos repetindo um gesto ancestral:
erguemos o corpo e dizemos — isso não está justo.
E é esse ato simples — e profundamente revolucionário — que move a história.
Que estas palavras sirvam de lembrete suave, mas firme: nada do que temos veio fácil.
E tudo o que ainda falta conquistar só virá se seguirmos caminhando juntos, sem medo, sem pedir licença, cientes de que somos elos de uma corrente longa, teimosa e bonita, que nunca aceitou a injustiça como destino final.
Receba, como sempre, meu abraço na medida da sua necessidade.





