
À esquerda, o professor Paulo Frazão; à direita, Donizete Furlan — unidos nesta edição especial do 50 Avos, onde a educação vira abrigo e o conhecimento vira gesto de cuidado. Foto: Arquivo Pessoal
Hoje é um dia especial para esta coluna — e não apenas porque celebramos mais uma edição do 50 Avos, esse projeto que já se tornou parte da rotina afetiva de muita gente que lê, acompanha, compartilha e se reconhece nas reflexões que aqui florescem.
É especial porque, neste 5 de dezembro, aniversário do professor e amigo Paulo, abrimos nossas portas para que outra voz, carregada de sensibilidade e compromisso humano, componha esta edição.
Paulo é matemático, professor de licenciatura e de administração, estudioso das múltiplas faces do ensinar — e, acima disso tudo, cidadão das Amazônias. Alguém que compreende o território não apenas como geografia, mas como vida pulsando. Seu olhar atento para a educação revela aquilo que muitos tentam esquecer: ensinar é tocar existências.
Quem acompanha o 50 Avos sabe: esta coluna nasceu para acolher histórias, iluminar silêncios e lembrar que ninguém caminha sozinho. Por isso, receber o texto de Paulo é mais do que um presente de aniversário — é um gesto de comunhão com aquilo que sustenta este projeto: a crença de que a palavra pode acender luzes onde o mundo insiste em apagar.
Com gratidão, alegria e profundo respeito, entrego agora a vocês as palavras dele — palavras que falam de jornada, de cuidado, de encontrar abrigo no conhecimento e de, ao ensinar, também ser salvo pela educação.
Quando a Educação Acende Luzes
por Paulo Frazão| Professor Universitário
Às vezes, a vida coloca a gente em corredores escuros. A gente anda tateando, sem saber muito bem para onde ir, sem entender o mapa, sem ter certeza sequer se existe um mapa. E foi nesse escuro que a educação começou a me salvar — não com um clarão repentino, não com fogos de artifício, mas com pequenas luzes acesas, pouco a pouco, em cômodos da minha vida que eu nem sabia que existiam.
Não é uma história de superação. Não é biografia, nem drama.
É só a história de alguém que encontrou, no simples ato de aprender, um lugar onde respirar.
A escola sempre foi, para mim, uma espécie de refúgio — um espaço onde o mundo parecia fazer sentido, mesmo quando lá fora tudo parecia desordenado. Era como se cada novo conhecimento fosse uma chave: algumas abriam portas para o futuro, outras abriam janelas para dentro de mim. E, de alguma forma, estudar sempre foi um modo silencioso de permanecer de pé.
Houve professores que acenderam luzes antes mesmo que eu percebesse que estava no escuro; houve palavras que me deram direção; houve disciplinas que me mostraram o tamanho do mundo — e o tamanho de mim dentro dele. E foi assim, entre uma descoberta e outra, que entendi que o estudo não é só conteúdo: é abrigo. É cura. É encontro.
Dessa experiência nasceu uma escolha — ou talvez tenha sido um chamado. A vontade de ser professor não chegou num anúncio grandioso, mas em pequenos sinais: no brilho do momento em que entendi algo novo, na sensação de que, se aquilo me salvava, talvez eu pudesse acender a mesma luz em alguém.
Ser professor, para mim, nunca foi apenas uma profissão. Foi uma forma de gratidão. Uma devolução. A materialização da ideia de que o que recebemos também pode ser dado. Que conhecimento compartilhado multiplica. Que alguém pode estar no escuro, e uma explicação, uma escuta, uma presença podem ser o fósforo que inicia a claridade.
A sala de aula, hoje, é meu território de sentido. Ali, aprendo enquanto ensino. Ali, me reinvento cada vez que um aluno enxerga algo que eu não vi. Ali, percebo que a educação segue me salvando — diariamente, silenciosamente — não só pelo que entrego, mas pelo que recebo de volta.
E sim, a docência tem seus desafios, suas sombras, seus pesos. Mas também tem um tipo de luz que não se apaga: uma luz que não nasce da estrutura, mas do impacto; do encontro; da vida que muda devagar, como quem abre uma janela para deixar entrar o dia.
Se, lá atrás, a educação me salvou, hoje é ela que me mantém inteiro.
É ela que me lembra que o mundo pode ser refeito, uma pessoa por vez.
É ela que me mostra que cada aluno é um universo — e que ensinar é tocar o infinito das pessoas, e ser tocado por elas também.
Escolhi ser professor porque a educação me escolheu primeiro.
E sigo, passo a passo, acendendo as luzes que um dia acenderam para mim.
Para que ninguém precise caminhar no escuro sozinho.
Agradecimentos
Paulo, obrigado por dividir tua história com esta comunidade que acompanha com carinho cada movimento do 50 Avos. Teu texto chega como presente e como farol — desses que iluminam sem brutalidade, mas com verdade.
Neste aniversário, celebramos não apenas tua vida, mas o gesto generoso de permitir que tuas palavras encontrem morada aqui.
Que a educação siga te mantendo inteiro, e que as luzes que um dia acenderam para você continuem iluminando também quem cruza o teu caminho.
Parabéns, meu amigo.
E obrigado por emprestar tua voz à nossa coluna.
Ao nosso Editor-Chefe e irmão Ricardo Alcantara, nosso muito obrigado pelo espaço e companheirismo. Seguimos firmes contra o estado do desconforto.
Como sempre, um abraço na medida de sua necessidade.
Até o próximo encontro.





