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Ribeirão Preto tem exame inovador para câncer de colo de útero

10 de setembro de 2025

Ribeirão Preto tem exame inovador para câncer de colo de útero

Ribeirão Preto é a primeira cidade do estado de São Paulo a adotar o novo modelo nacional de rastreamento do câncer de colo de útero, uma das principais doenças que afetam a saúde da mulher. O exame, que substitui o tradicional Papanicolau, garante maior precisão na detecção de lesões e permite intervalos mais longos entre as coletas, reduzindo a necessidade de exames frequentes. A expectativa é de que a nova tecnologia contribua não apenas para diagnósticos mais eficazes, mas também para a ampliação do acesso das mulheres ao rastreamento e consequente aumento da adesão às estratégias de prevenção, fortalecendo a rede de atenção básica e a saúde pública como um todo.

Anunciada oficialmente em agosto na Unidade Básica de Saúde (UBS) Doutor Sérgio Botelho da Costa Moraes, no bairro Ipiranga, a medida começou a valer este mês, com testes sendo distribuídos gratuitamente pelo SUS para mulheres com idade entre 30 e 65 anos, faixa etária considerada prioritária para o rastreamento. A médica e professora Silvana Quintana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP acredita que a escolha pela cidade “se deve à excelência do sistema de saúde local e à parceria com o Hospital das Clínicas da FMRP, além de laboratórios de ponta que podem contribuir para uma implementação rápida e segura”.

O novo teste

A nova testagem é baseada em uma técnica avançada de biologia molecular, conhecida como PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). Segundo a especialista, o método permite identificar no organismo da mulher partículas do DNA do HPV, vírus que pode evoluir para o câncer de colo de útero. “Será feita a coleta do material da região genital e, a partir dele, será possível verificar, pelo PCR, se o material genético do HPV está contaminando o trato genital da paciente”, explica.

A infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV) é a principal causa do câncer do colo de útero. Entre os diferentes tipos do vírus, os subtipos 16 e 18 estão entre os mais associados ao desenvolvimento da doença, respondendo por 70% dos casos, segundo o HPV Information Centre. No Brasil, muitos só são detectados em estágios avançados. Segundo Silvana, a inovação permite identificar precocemente mulheres em risco e acompanhar seu tratamento de forma mais eficaz. “Com a introdução do PCR, conseguimos identificar se a mulher tem HPV de alto risco e, ao detectá-lo, a paciente é encaminhada imediatamente para um segundo exame, a colposcopia, onde é possível visualizar a lesão”, explica. “Mesmo que ela não apresente a alteração no momento, passa a ser acompanhada de forma especial, porque carrega um vírus oncogênico associado ao câncer de colo de útero”, afirma. Silvana acredita que com a detecção de tumores precocemente pela biologia molecular, existe maior probabilidade de cura, monitorando principalmente mulheres que tenham o vírus e ainda não tenham a lesão.

Do Papanicolau ao PCR: maior precisão na detecção do HPV

Usado desde o começo dos anos 80 no Brasil, o exame Papanicolau ainda é o principal método utilizado no país para identificar o HPV. Contudo, o objetivo é que, gradualmente, esse exame seja substituído pelo teste molecular, mais sensível para a detecção precoce de lesões causadas pelo vírus. A especialista ressalta as principais diferenças entre as testagens. “O Papanicolau é um exame de citologia, que não utiliza biologia molecular e, consequentemente, não identifica o vírus”, detalha.  “Nele, o material é coletado por meio de um líquido ou de uma lâmina, e a partir daí analisamos a morfologia e o formato das células, que indicam a presença de lesões já estabelecidas.” Segundo Silvana, a citologia acaba diagnosticando os tumores tardiamente e, consequentemente, em fases em que a cura fica comprometida. “Já a biologia molecular, por meio da técnica de PCR, identifica a presença do vírus HPV, responsável pelo câncer de colo de útero”, explica.

Na antiga testagem, caso os dois primeiros exames após a primeira coleta fossem negativos, o intervalo entre as coletas era de três anos. No novo teste, o período aumenta para cinco anos. Acerca disso, levanta-se o debate se esse aumento realmente pode ser maior sem perda da segurança. “A primeira citologia é seguida de nova coleta em um ano e se ela for normal, nova coleta em três anos. É preciso repeti-lo pelo menos três vezes para que a gente tenha uma sensibilidade de 91%”, afirma. Ela diz que a sensibilidade do exame de PCR por biologia molecular para identificar HPV de alto risco é de 97%. Ou seja, a probabilidade de existir uma paciente que possui o HPV e o exame não detectou é muito baixa. “Basta um exame e, se ele for negativo, pode ser repetido a cada cinco anos, de forma extremamente segura”, enfatiza Silvana.

Expansão nacional

A inserção do novo método no Brasil começa por um município em cada estado e será ampliada gradualmente à medida que a substituição do exame for concluída. A meta é que, até dezembro de 2026, o rastreio esteja disponível em toda a rede pública do país, beneficiando cerca de 7 milhões de mulheres de 25 a 64 anos por ano. Silvana ressalta que, apesar da semelhança com a coleta tradicional, a capacitação dos profissionais é essencial. “A logística e a estrutura são diferentes, com novos equipamentos e tecnologia. Por isso, é fundamental que todo o sistema esteja preparado e organizado para a introdução segura deste método”, conclui.

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