
Justiça? Justiça! Justiça. Justiça…
Seja bem-vindo mais uma vez, leitor amigo. Hoje, quero conversar contigo sobre um tema que atravessa gerações, que move corações e que, ainda assim, continua difícil de ser colocado em palavras: a justiça.
Justiça é dessas coisas que a gente sente antes de entender. Está naquele nó na garganta quando vemos uma cena de desigualdade. Está no incômodo que dá quando alguém é tratado com desprezo só porque não tem um sobrenome conhecido, uma conta bancária gorda ou um título acadêmico. Justiça é um equilíbrio que a vida nos deve e que, muitas vezes, nunca chega.
Outro dia, numa conversa simples com uma amiga enfermeira, enquanto ela dobrava uns prontuários no final do plantão, ouvi uma frase que me acompanha até hoje: “Justiça tem a ver com algo que é justo, o que seria o correto ou ideal.” E é isso. A justiça mora no ideal. Ela é quase um estado de espírito, um desejo coletivo de que as coisas caminhem para o lado certo.
Mas entre o que é ideal e o que é possível existe um abismo chamado realidade. Por isso, criamos leis, tribunais, o Ministério Público, defensores, advogados e juízes. Porque, se dependesse só da boa vontade humana, talvez a justiça nunca saísse do papel. Mas nem por isso ela deixa de ser real. Ela pode até ser invisível aos olhos, mas é concreta nas consequências.
A história já nos ensinou que o caminho da vingança é uma armadilha. Aquela velha ideia de “olho por olho, dente por dente” parece ter um gosto de justiça na boca, mas, na prática, só alimenta o ódio e a violência. Se fosse por esse caminho, viveríamos num ciclo eterno de dor e perda, onde ninguém sairia ganhando. Um mundo em que cada injustiça seria paga com outra injustiça. Onde, a cada novo erro, nasceriam mais vítimas. Não é esse o futuro que a gente merece.
E mesmo quando o sistema tenta fazer justiça, ele também falha. Em muitas situações, toda a atenção se volta para o agressor, para o criminoso, para o autor do mal. A sociedade quer punição, quer resposta rápida, quer manchete. E, no meio disso tudo, quem mais merecia reparação é esquecido. Quem perdeu um filho, quem viu a vida de um ente querido ser tirada de forma violenta, fica com a dor — e quase sempre sem o amparo devido. A família da vítima passa a ser apenas um detalhe nas estatísticas de criminalidade. E isso, por si só, é mais uma camada de injustiça.
Mas justiça também tem outro rosto. Ela não vive só nos tribunais. Ela mora nos bancos das escolas, nas bibliotecas públicas, nas salas de aula lotadas de alunos sonhadores que, com caderno surrado e muita força de vontade, tentam mudar o próprio destino. Não é só questão de punir os culpados, mas de criar condições para que as pessoas tenham as mesmas oportunidades. Porque é injusto demais que uns tenham tanto e outros tão pouco. E a educação, mesmo que pareça um caminho lento, é a forma mais eficaz de corrigir essa balança.
Fazer justiça é, também, garantir que o menino da periferia tenha o mesmo direito de aprender que o filho de um juiz. É garantir que a moça que atravessa a cidade para trabalhar como atendente de mercado possa, um dia, sonhar com uma faculdade, com um concurso público, com uma vida mais leve.
A justiça em que acredito é feita de leis, de instituições, mas também de gestos diários de humanidade. É saber que não dá para consertar o mundo inteiro, mas dá pra começar por aquilo que está ao nosso alcance. É escolher o certo mesmo quando o mais fácil seria ignorar.
Na próxima coluna, quero te fazer um convite que vai além da leitura: vamos juntos abrir espaço para um debate que parece simples, mas que carrega muita história, muita luta e, infelizmente, muitas confusões conceituais. Vou falar sobre a diferença entre igualdade e isonomia. Porque tratar todo mundo igual nem sempre é ser justo. E entender isso é o primeiro passo para construir um país onde a justiça não seja privilégio, mas um direito real. Até lá, querido leitor… nos encontramos na próxima esquina do pensamento.
Por hoje, um até breve.