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Donizete Furlan estreia sua coluna no Diário de Ribeirão Branco

Prefácio de Ricardo Alcantara e texto de estreia do professor Donizete celebram raízes, memória e compromisso com a comunidade.

Prefácio

por Ricardo Alcantara | Editor-chefe do Diário de Ribeirão Branco

Há textos que chegam como notícia. Outros, como memória. E há aqueles que são, ao mesmo tempo, reencontro e promessa. É com esse espírito que recebo — e apresento — ao leitor do Diário de Ribeirão Branco o primeiro artigo do professor Donizete Furlan.

Ao convidá-lo para integrar nosso time de colunistas, não procurei apenas um jurista renomado ou um intelectual de currículo notável. Convidei um filho da terra. Um homem cuja trajetória acadêmica e profissional se entrelaça, com raízes profundas, à história silenciosa de tantas famílias de Ribeirão Branco. Um professor que aprendeu a pensar o Direito ouvindo as conversas ao redor da charrete do pai. Um escritor que carrega, na forma de dizer, o ritmo dos dias de trabalho duro no sítio e a dignidade de quem cresceu sem perder o chão.

Receber sua coluna é, portanto, um gesto de afeto e de afirmação. Afeto por tudo o que nos une: a infância no interior, os nomes que nos formaram, os lugares que nos ensinaram a sonhar. E afirmação do compromisso que este jornal assume com a memória, a verdade e a comunidade.

Donizete Furlan nos convida a refletir, sem arrogância; a recordar, sem saudosismo; a pensar juridicamente, sem jamais perder o olhar humano. Ele nos lembra — com elegância e simplicidade — que não há teoria que se sustente se não souber tocar a vida real.

É com alegria, gratidão e respeito que damos as boas-vindas ao professor Donizete. Que sua escrita seja para os leitores deste jornal o que foi para mim desde sempre: companhia inteligente, memória viva e provocação gentil.

Boa leitura.

Texto de estreia de Donizete Furlan

Na estreia da coluna, Donizete Furlan escreve sobre suas origens, memórias e motivações para escrever semanalmente no jornal.

Donizete Furlan durante palestra em Macapá (AP) — Foto: Arquivo Pessoal

Sítio Santa Terezinha s/n, Bairro Serra Velha, Ribeirão Branco-SP: era esse o meu endereço.

Receber o convite do meu amigo e irmão Ricardo Alcantara para escrever no Diário de Ribeirão Branco é mais do que uma honra profissional — é um reencontro com a minha própria história. Um convite que não se faz apenas com palavras, mas com o coração. É como se cada linha que eu venha a escrever aqui tivesse sido semeada muito antes de qualquer diploma, quando eu ainda ajudava meu saudoso pai, Grané Furlan, a vender alface, couve, tomate e laranja de charrete pelas ruas da cidade, ao lado das minhas irmãs.

Hoje, me apresento como professor universitário do curso de Direito, advogado, palestrante, mestre em Direitos Humanos, metrologista e consultor jurídico. Mas, acima de tudo, sou filho de Ribeirão Branco — e é dessa identidade que brota minha forma de ensinar, aprender e viver.

Foi nesta terra que estudei o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, na Escola Estadual Professor Luiz José Dias. Meus professores — Débora, Sônia, Lucimara, Joarez, Cida, dentre outros — foram mais que educadores. Foram espelhos de humanidade, paciência e firmeza. Cada um deixou uma marca em mim que o tempo não apaga. Aprendi ali que o conhecimento pode transformar, mas que é o exemplo que nos forma.

Naquela época, o prefeito era Mauro Teixeira. Ribeirão Branco vivia a construção da estação de tratamento de água, o Lacerdão ainda não tinha cobertura — e era o nosso Maracanã. Os fins de semana eram sagrados para o futebol com os amigos: Eliel, Eric, Danilo, João, Nicolau, Conrado, Daniel e tantos outros que guardo com carinho profundo no peito. Companheiros de pelada, de risos, de sonhos simples e verdadeiros. Ao finado Renê e ao finado Marcelo e família, deixo o meu agradecimento pelo tempo que passamos juntos. Um abraço muito especial ao meu querido Everton e sua família, também irmão que hoje mora em Sorocaba, mas está sempre em Ribeirão Branco.

Enquanto escrevia, me lembrei que a dona Vicentina me esperava com pipoca depois de uma noite de aula. Que o Moacir e seus filhos (meus queridos) brincavam o tempo todo comigo. Me lembrei do seu Tagino, da tia Neusa e sua família, que sempre estavam conosco. Me lembrei do meu querido seu Felício, que se foi, mas merece sempre ser lembrado; dona Maria, Claudino e família (ainda não achei açude melhor para nadar). E, claro, da minha madrinha linda, Lúcia.

Também fazíamos nossas travessuras — e quem nunca? Às vezes, escapávamos de uma aula ou outra para correr atrás de fitas de videogame. Era época de Super Nintendo, tardes de campeonato de Street Fighter, disputas de Mario Kart e muitas histórias que hoje nos fazem rir com saudade.

Cada título que levo comigo — em Direito, História, Educação, Metrologia — nasceu do chão dessa cidade. Cada livro que escrevi, cada sala de aula que ocupo como professor, tem em suas entrelinhas o espírito daquela charrete, daquele campinho, daquela escola, daquele povo.

Agradeço profundamente ao jornalista de profissão e coração Ricardo Alcantara por esse convite cheio de significados e pelo trabalho lindo que vem realizando à frente de um jornalismo independente, corajoso e enraizado na vida real da nossa gente. O Diário de Ribeirão Branco é mais que notícia: é resistência cultural, é afeto digital.

A partir de agora, estarei por aqui semanalmente. Sempre com alguma coisa nova pra contar. Pode ser uma lembrança, uma reflexão, uma análise ou só o desejo de conversar com quem, assim como eu, acredita que não há futuro sem memória.

Nos encontramos na próxima edição — com a leveza de quem volta pra casa e a firmeza de quem nunca deixou de pertencer.

Sobre a Coluna

A coluna de Donizete Furlan será publicada semanalmente no Diário de Ribeirão Branco, sempre com textos que entrelaçam Direito, memória e cotidiano. Um convite ao pensamento crítico com raízes no interior.

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